A cadeira do dentista precisa se mover: repensando o acesso à saúde bucal no Brasil

A saúde bucal ainda é um privilégio para muitos brasileiros. Quando falamos em “acesso”, o que geralmente vem à mente?
 Localização, mobilidade, transporte. Mas a verdade é que o acesso à odontologia vai muito além do deslocamento físico: ele também é emocional, cognitivo e social.

Barreiras que afastam pacientes do consultório

Muitas pessoas não recebem atendimento odontológico por razões que extrapolam a questão geográfica. Entre elas:

  • Pacientes acamados ou que vivem em áreas isoladas

  • Pessoas com deficiência física que encontram barreiras de locomoção

  • Indivíduos que carregam traumas antigos ou fobias de consultório

  • Pessoas com dificuldades cognitivas ou transtornos do neurodesenvolvimento

  • Pacientes que enfrentam desafios emocionais que tornam o ambiente tradicional hostil

Essas realidades, muitas vezes invisíveis, constroem um muro entre os profissionais de saúde e aqueles que mais precisam de cuidado.

O retrato em números

Segundo dados do IBGE, mais de 6,5 milhões de brasileiros vivem com algum tipo de limitação severa de mobilidade.
 Além disso, temos uma população que envelhece rapidamente, somada ao crescimento dos diagnósticos de transtornos emocionais e de neurodesenvolvimento. Esse cenário cria uma demanda urgente por novas formas de presença.

Odontologia além das quatro paredes

Para responder a essa realidade, a odontologia precisa se mover em dois sentidos:

  1. Fisicamente – expandindo-se por meio de consultórios móveis, atendimento domiciliar e adaptações arquitetônicas que realmente incluam os pacientes.

  2. Emocionalmente – com mais escuta, paciência, sensibilidade ao trauma e menos julgamento.

A odontologia precisa ocupar o espaço onde as pessoas estão, não apenas esperar que elas cheguem até ela.

A cadeira que vai até a vida real

Mover a cadeira do dentista significa romper a lógica tradicional de que o cuidado está restrito a um consultório fixo.
 Significa construir práticas que acompanhem a vida real dos pacientes, respeitando suas limitações e acolhendo suas histórias.

Se quisermos uma odontologia realmente inclusiva, é necessário compreender que o acesso é tão emocional e social quanto geográfico.

A cadeira do dentista precisa se mover.
 E precisa se mover agora.